Era o que havia em casa

O almoço era a única coisa que a gente tinha. Comia carne mais ou menos boa. Porque em geral, em todas as casas, fossem muitas ou poucas pessoas, tinham um rebanhinho de gado. Uns mais, outros menos. Andavam por essas encostas. Agora a carne não tem gosto nenhum. Eu cheguei a levar carne para Lisboa, quando estava no bar. Fazia lá o comer para mim. Servia muita coisa, sandes e coisas assim, mas não servia almoços. E as pessoas passavam, aquilo tinha um passeio muito largo, as pessoas estavam na paragem de autocarro mesmo defronte do bar. Era um cheirinho quando eu estava a fazer o comer. As pessoas atravessavam, e chegavam lá:

- “Desculpe, o senhor serve aqui almoços?”

- Não, não.

- “Ai que cheirinho!”

- Mas isto é só para mim.

A carne que eu levava da aldeia. Os porcos eram criados só com o que dava nestas terras. Milho, farinhas, abóboras, nabos, couves e essas coisas todas. Hoje não, hoje são criados com rações, a carne não tem gosto nenhum. A que vêm aí vender não tem gosto nenhum. O que a gente matava é que era bom!