“A aldeia era muito longe”

No meu tempo, éramos nós que fazíamos as nossas roupas. Umas cosíamos à mão, outras fazia-se à máquina, era conforme se podia. O pano comprava-se nas lojas. Havia duas no Piódão e as duas tinham panos. Então, a gente comprava os tecidos na aldeia. O calçado também se comprava mas eu, quando me criei, andava sempre era descalça. Não tinha sapatos. E não era só eu.

A nossa alimentação era do que se criava na terra. Comíamos batatas, feijão, a carne de porco e o enchido. De vez em quando, lá se comprava o arrozinho, uma massinha e as lojas da aldeia também vendiam a sardinha e o bacalhau. No Piódão não havia vendedores que andavam de terra em terra, porque a aldeia era muito longe. A gente é que, às vezes, ia buscar coisas mais longe. Íamos à feira a Lourosa, a Oliveira, a Avô, a Arganil e também à Covilhã. Depois, mais tarde, também íamos a Vide. Mas íamos a pé, não íamos de carros. Íamos, vínhamos e trazíamos os carregos à cabeça. Ai não que não custava! Demorávamos o dia todo e, às vezes, ainda íamos na véspera dormir fora.