Depois mais tarde tive um desastre ao fim de um ano de casado. Já tinha o meu filho nascido e ele já tem 55 anos. Foi o dia 9 de Agosto de 1955, em Poiares. Foi na viagem, na camioneta que vinha de lá. Andava de ajudante de camioneta quando cá estava.
Tive o desastre e parti o presunto, por baixo pela perna. Um dedo foi-se embora, foi cosido. Depois deram-me uma tençazita de 15 escudos, uma pensão do seguro. Ainda tinha que ir à Benfeita recebê-los. Gastava 60 ou 65 escudos em cada passagem. Não valia a pena. Mais valia perder aquilo. Depois andei, andei, lá um primo que era da minha mulher, chamado Afonso, agarrou:
- “Oh, eu não sabia que eras tu pá. Ele enganou-me. O teu patrão enganou-me. Se não, não era esse dinheiro que lá punha. Mas tu agora só podes receber isso até aos 65 anos. Recebes junto que eu vou-te tratar disso. E recebes assim um dinheirito.”
Lá me tratou disso, lá fui a Coimbra receber o dinheiro. Deram-me 14 contos e não sei quê. Eu fiquei todo contente mesmo assim. Agarrei, trouxe-os para cima. Dei aquilo a um velhote que tinha uma taberna adiante para mo pôr a juros, que trazia dinheiro emprestado de uns e doutros. E fui para Lisboa outra vez.