“Não falhávamos uma passada”

Antes, não tínhamos água, nem luz. A água, iam aí aos barrocos. Mais tarde, foram postos dois fontanários. Um ao pé do restaurante e outro ao pé da Capela de São Pedro. Para termos luz, na altura usávamos o azeite. Nem havia dinheiro para petróleo. Tínhamos as candeias. Era um lampião. Ainda tenho aí candeias do azeite. Aquela lanterna com uma argola e quatro vidros. Tem quatro vidros por causa do vento. Dentro, tem um candeeirinho, com a torcida. Enchiam aquilo de azeite com uma almotolia. E à noite a mesma coisa. Na altura, regavam de noite. Mas eu ainda hoje faço a assinatura sem óculos. Não estragava tanto a vista como agora, a olhar para a televisão e outras coisas mais. À noite, íamos para as tascas entreter a rapaziada. Lá se ia buscar um chouricito, um bocado de toucinho para a gente petiscar com um bocado de bola que as pessoas davam. Não havia dinheiro para pilhas.

Para ir para casa, punha um pauzito no lume dos fornos até fazer brasa. Os fornos trabalhavam de noite e de dia. Toda a gente fazia o pão de milho. Iam moer aos moinhos e depois faziam a broa nos fornos. Com aquele pauzito é que vínhamos a abanar “pia fora”. A gente olhava para os beirais das casas para se guiar para ir para casa. Mas não falhávamos uma passada, nem um degrau. Já estava tão prático. Era assim.