“Dormíamos num palheiro”

A minha casa de infância era dividida por quatro irmãos, pelos meus pais e por mais três tios. Na casa onde fui criado, havia uma salita, onde os meus pais dormiam e que servia também de sala de jantar, e a cozinhazita. Na altura, casas de banho não havia. Eu e mais os meus irmãos dormíamos numa barraca de um palheiro. Estavam lá os colchões. Aquilo não tinha forros nem nada. O telhado era só lajes assentes em cima de barrotes. O vento, às vezes, enfiava a neve e o frio por baixo das lajes lá para dentro. Era um frio dos diabos! A gente passava as do Algarve, mas tinha que ser assim. Até o sobretudo que o meu pai tinha trazido da França servia de cobertor. Era um sobretudo - ainda o estou a ver - russo e grande. Servia para tirar o frio à gente no Inverno. Hoje, não. Hoje, é tudo coberto com placas ou com forros.

As portas daqui normalmente eram azuis. Antigamente, acharam que a tinta azul era bonita porque era a cor do céu. Ainda hoje mantêm essa tradição. Portas e janelas, é quase tudo de azul.