“Eu distinguia as cabras”

Tínhamos animais. Ainda andei a guardar umas cabritas, nesse tempo que eu fui criado. Depois, mais tarde, acabaram. Todos tinham uma cabrada, quer dizer, tinham para aí 20 ou 30 cada um. Eu andei a guardá-las pelas serras. Chamam a Pedra Redonda à parte alta que a gente chama o Cabeço do Barreiro. Saíamos de casa deitavam-se os animais, as cabras. Deitavam-se às dez horas por aqueles campos, levava-se um bocadito de broa ou de queijo e ordenhavam-se. Parece uma história, mas é verdade.

De manhã mugia as cabras todas, menos uma. A gente andava no campo, levava uma latinha às costas, daquelas latinhas de litro mais ou menos. Mugia a cabra para lá, metia um bocadinho de broa lá para dentro e comia aquilo.

Eu distinguia as cabras. Até tínhamos uma coisa, juntávamo-nos três ou quatro pastores, tudo à volta dos 12, 13, 14 anos, e à noite cada um sabia das suas. A gente conhecia-as. Até as próprias cabras entravam cada uma para a sua coisa, chamava-se um curral ou uma loja.