Como tratar um doente

Quando ficávamos doentes estávamos até à última. Ao primeiro, ainda vinha o médico a casa, mas agora já nem isso. Isso também acabou. Já não vem a casa. Já não querem vir a casa das pessoas. E temos que ir para Côja para o médico, quando nos dá alguma coisa. Depois de Côja vamos para Arganil, de Arganil mandam a gente para Coimbra e é assim. Havia pessoas que vinham cá que não eram médicos. Era José Augusto, da Benfeita. Também morreu, pronto, ficou isto sem mais ninguém. Quando a gente tinha alguma dor, escutava a gente. Nem tinha aparelho, nem nada. Tombava o ouvido...

- “É capaz de ser isto. É capaz de ser aquilo!”

Lá receitava umas coisitas, mas coitado. Ele também nunca andou a estudar para isso. Fazia um tratamento com os copos. Era umas ventosas. A mim nunca me pôs isso! Punham assim onde estava a dor e aquilo puxava. Tanto puxava, que fazia força, que nem caiam. Punham com a boca para baixo. Umas pomadas e era assim.

A linhaça era quando a gente tinha qualquer coisa a criar, ou para criar, para arrebentar, parecia farinha. Amassava-se aquilo numa coisinha qualquer e depois punha-se assim onde doía. Põe-se-lhe uma gaze por cima e andava aquilo até ver se a dor passava. Parecia que, pelo menos, abrandava.

As senhoras que faziam rezas não adiantavam nada. Em Monte Frio não havia pessoas que faziam isso! Havia uma mulher, uma mulherzinha. Mas diz que vinham falar com as almas de quem morria. Por um lado, ainda era bem, porque ela dizia que fulana veio dizer isto, dizer aquilo:

- “Cozei umas broinhas, umas merendeiras para darem aos pobrezinhos.”

Depois lá davam. Enquanto aquelas merendeiritas duravam, era uma alegria. Depois quando morriam, davam pão. Um pão a cada pessoa. A cada morador. Mas isso tudo já acabou. A mulher já morreu, agora já não mandam dar nada. Graças a Deus agora também não preciso disso!