Uma sardinha para três

Naquele tempo era a coisa mais miserável que havia no mundo. Mas não era só a gente aqui. Era tudo a eito. Chegaram até a dividirem uma sardinha por três. E depois ninguém queria o “cacholo”. Só tinha a espinha aquilo. E às vezes até guerreávamos uns com os outros, em nossas casas. Não era com as outras pessoas de fora. Até cá morreram pessoas ainda cheias de miséria, coitadinhas. Que ainda não havia as reformas, não havia nada e coitadinhas não tinham ganhos nenhuns. Só comiam alguma coisita que cultivassem da fazenda, das terras. E não comíamos a quantidade que queríamos de pão de milho. Aquilo era por ração. Não havia nada. Vinha cá, mesmo aqui a Monte Frio, uma senhora com uma canastrazita de pão e chegou a ser aquilo por ração. A mercearia também chegou a ser com umas senhas. A gente ia lá com umas senhas, era um tanto por cada pessoa. Isto era um tempo desgraçado. A senhora que vendia é que dava as senhas para a gente quando lá fosse buscar o que nos pertencia. Era por família. Mas contavam as pessoas que tinha a família e era poucochinho a cada um. A senha dava para ela saber quantas pessoas eram e quanto é que havia de pesar. Trocávamos por dinheiro. Era açúcar, arroz, farinha, era assim...