“Só viemos à aldeia no fim de dois anos”

Nessa altura, os maridos estavam todos em Lisboa. Só as mulheres e os filhos miúdos é que ficavam na aldeia. Do resto, os rapazes, os homens novos iam para lá. Assim que faziam a tropa, e até antes, iam e empregavam-se. Quase tudo em garagens. Era tudo lavadores de carros e empregados em garagens. E como lá era a terra dos táxis, empregavam-se em táxis próprios. Ainda hoje há, mas havia pessoas que tinham dois e três táxis. Lisboa era uma terra industrial e já viviam bem. No fim de se casarem, ou as mulheres já iam com eles ou eles arranjavam lá um quarto, uma casa e as mulheres iam lá ter. Lá construíam a vida.

Adaptei-me bem a Lisboa. Mas só viemos à aldeia no fim de dois anos. Quem está agora em Lisboa vem ao Monte Frio, sei lá, se for preciso todos os meses. Mas, naquela altura, era de ano a ano e era aqueles que ganhavam melhorzinho. Nós tivermos dois anos que não pudermos vir. Não havia dinheiro. Mas depois dermos em vir todos os anos em Agosto, quando é a festa da aldeia.