“A professora no burrito e nós a pé atrás dela”

Fiz o exame da terceira classe na Benfeita. Também foi engraçado. Só fui eu e mais uma rapariga da minha idade, a Maria. Só fôramos duas aquele ano. Rapazes, é que foram muitos fazer o exame da quarta classe. E, então, foi a minha mãe e o avô dessa rapariga a acompanhar a gente. Arranjou-se uma merenda num cabaz, desses cabazes que havia encarnados, e ainda há, que se levavam às romarias. Era uma merenda boa, já se vê, para comermos na Mata da Margaraça quando viéssemos da Benfeita. Para lá, levámos um burrito à mão, o tal burrito que o meu avô, Manuel Henriques, ainda tinha e emprestou. Fui lá fazer o examezito. Ficámos bem e regressámos. Ia eu, a minha mãe, o avô dessa colega, a Maria, e a professora. Fôramos a pé por a estrada da Margaraça. Já havia uma estradita de carros de bois, porque vinham ao Monte Frio buscar a azeitona para os lagares da Benfeita. A professora ia no burrito e nós a pé atrás dela. Depois, chegámos à Mata da Margaraça, estendeu-se ali uma mesinha no chão, uma toalha para a senhora professora e comêramos. A minha mãe era uma pessoa muito habilidosa para fazer assim as suas coisinhas. Levarmos um bom lanche e um bom bolo. Comermos ali e viermos. Ao regresso, é que foi mau, porque o raça do burro ia-se muito abaixo. À frente de uma casa grande, onde havia uma calçadita, a professora caiu do burrito e ainda se feriu! Mas ainda bem que foi só à vinda que se aleijou. Que viesse a pé como nós vínhamos também!