“Dançar até às tantas da noite”

A minha festa era uma festa boa! De manhã, às oito horas, vinha a música. Íamos lá em cima, ao Outeiro, levar uma bandeja com sandes e bolos para os músicos comerem. Seguiam para a capela dizer a missa e, então, vinha a procissão dar a volta à rua. Depois, era a hora do almoço e de tarde era farra! No tempo da minha filha, já faziam jogos: o jogo da malha, o chinquilho e a sueca. Mas isso foi no tempo dela. No meu tempo, que eu também fui mordoma, ainda não havia jogos. Era só comer e dançar até às tantas da noite! Íamos daqui até sei lá onde atrás da música. Agora, já ninguém quer, mas dantes dançava-se descalça, dançava-se calçada, dançava-se a toda a hora e a todo o instante! Mal a gente ouvia uma guitarrita, já não nos doía o pipo a dançar. A música tocava até às tantas da noite! Havia uns conjuntos e, naquele tempo, dávamos de comer a um músico ou a dois. Até a minha filha, quando foi mordoma, acolheu alguns cinco músicos pretos, que o meu genro fez questão de trazer. Comeram em minha casa. Eu gostava muito de dançar! Dançava com o meu marido mas, às vezes, também dava um pezinho assim fora. Eu dançava bem, mas ele dançava mal. Era muito pesado! Dançava-se com todos! Com raparigas, com rapazes, não havia problema.