Um negócio de família

O meu pai também andou a vender na Beira Baixa. Aquele negócio das especiarias era só no Inverno, nas matanças dos porcos. Tinha um conhecimentozinho, já do tempo do meu avô. Aquilo já vinha de descendências, de pais para filhos. Telefonava para Lisboa, para os armazéns onde vendiam os fardos da tripa, colorau, pimenta e todas as especiarias que eram precisas para os enchidos e, então, despachavam-lhe os fardos para a Beira Baixa, porque ainda não havia estrada para o Monte Frio. Mas, às vezes, vinha para a aldeia também um fardo de tripa, lá não sei como. Depois, carregava o burrito com as outras coisas e levava os condutozinhos num saco. Era um bocadinho de presunto, um bocadinho de chouriço, o queijo... Para ser mais barato, comiam só uma sopinha e dormiam numa pensãozita de pessoas amigas, muito antigas. Vendia naquelas quintas da Beira Baixa, nas cidades e nas aldeias. Mas não pagavam nessa altura! Só no fim de essa gente apanhar o azeite, que vendiam depois, é que o meu pai tinha que ir receber o dinheiro, porque na altura não havia dinheiro para pagar.