“Pediu para eu lhe fazer rendas”

Estou em casa, vejo televisão. Às vezes, fazia renda mas agora já me custa, já me aborrece. A minha nora não gosta de rendas e a minha neta também não. Tinha-as aí e ela não as quis levar. Eu gosto muito de renda, a minha mãe também faz. Aprendi uma renda na escola mas depois escangalhei-a toda. Escangalhei a renda, mas acertei com ela. Depois fazia uns paninhos, uns picots em volta dos panos e assim entretém-se a gente. Aprendi com uma rapariga, com uma prima que está agora no Brasil. Ela tinha uma cunhada que disse que eu não aprendia, que não sabia e não me ensinou. E depois ainda me pediu para eu lhe fazer rendas. É assim. Tenho panos com picot, tenho uma toalha de renda que fiz às rodinhas, às flores. No meio pegava e fazia uma pequenina. Fiz uma toalha que era às tiras e fi-la inteira. Vou a Côja comprar as meadas ou novelos. Tenho ainda um saco de linha, mas já não apetece, já vejo mal e o meu marido é assim:

- “Pois estraga a vista, estraga a vista.”

Essa tal minha prima tinha uma loja e tinha sempre aqui coisas. Tinha panos e tinha coisas para vender. E aqui a dona Saudade também tinha uma lojinha, que ela agora fez em sala. Também tinha linhas e panos e na feira comprava batas. Era assim. Quando o meu marido tinha aquela carrinha, que ainda a tem, mas é um primo que a guia, comprava na Benfeita. Era quando ia à missa aos domingos, não faltávamos lá domingo nenhum à missa. Ele é muito religioso. Ele come e fica a rezar, mesmo lá na Comissão depois de comer ele lá está a fazer as rezas dele. A mãe dele era muito religiosa também.