“Não acredito em bruxas, mas que as há...”

Se um casal tivesse seis rapazes, ou seis raparigas, uma era bruxa ou lobisomem. Quando era rapaz tinham que lhe pôr o nome Maurício. Se não lhe pusessem o nome Maurício tornava-se em lobisomem. Formavam-se em bichos, andavam aí. Diz que se punham em cavalos e cães e que metiam medo, nos tempos antigos. Mas não era do nosso tempo já. É dos antigos.

Uma vez a um homenzinho iam-lhe parar o moinho, que moía o milho para a farinha. E as bruxas iam-lhe tirar a água do moinho, cortavam-lhe a água. Uma vez foi lá para tapar a água, apanhou uma e disse lá umas palavras e ela formou-se em mulher. Trouxe-a do moinho no barroco até à capela, e ela disse assim:

- “Larga-me e ai de ti que digas, que me descubras, que eu mato-te.”

E ele teve de dizer aquelas palavras e ela formou-se em bruxa, ou em borboleta, ou que raio é. Diziam umas palavras para as formarem em mulher e depois tinham que trocar as palavras para elas se irem embora. Podiam ir em bruxas ou podiam ir em pessoas já. Só quando elas morriam é que se dizia assim:

- “Olha já vai lá mais uma.”

Morriam como nós morremos. Quando lhes dava o tempo delas morrerem e ele só dizia:

- “Já vai lá mais uma.”

Porque ainda ficavam mais e ele não podia dizer. Elas em bruxas vão para o Brasil. Vão e vêm. Havia uma história que dizia que já tinham ido ao Brasil e que já tinham vindo. Elas formam-se em borboletas, voam e vão.