“Fiquei uma vez ao fundo dos Pardieiros sem uma unha”

Eu, graças a Deus nunca andei descalça. Mas, uma vez, fiquei ao fundo dos Pardieiros sem uma unha, de dar topadas nas penedas. Ia descalça aquele dia, é assim. Às vezes era umas sapatilhas, uns sapatos de borracha, de pano por cima. Antes era com umas sapatilhas com uma bola assim na ponta, em cima na chanata. Quando andava no correio arranjava uns tostõezitos para arranjar uns chinelinhos para ir calçada. E usava tamancos quando ia para o gado. Usava umas tamancas, umas vezes era com brochas, outras vezes punham sola assim pregada na madeira.

O meu marido ainda tem ali uns tarocos, uns socos, uns tamancos, mas ele pôs-lhe borracha por baixo para não fazerem barulho e não escorregar, porque a madeira escorrega. O meu sogro fazia brochas na forja. Tinha assim uma coisinha punha ali o ferro em brasa e batia com o martelo em volta. Fazia-lhe aquelas orelhinhas em volta nas brochas e andava aí pelas terras a vender brochas. Era para pregar nos tamancos. Para não escorregar. Na feira vê-se lá tamancos. Pela feira há disso. Ainda usam que, às vezes, na televisão até se vê.