Fados e pregões

Em Monte Frio canta-se ao fado e muito. Mas não é ao desafio. Primeiro canta um uma canção, depois canta outro, depois outro e depois outro. Mas não é à desgarrada, cada um canta à sua maneira. Cantavam à desgarrada nos campos. Mas isso era quando andavam a “enleirar” o milho ou a sachar, ou os resineiros a tirarem a resina dos pinhais, aí é que andava tudo a cantar. Antigamente, isso era um lírio. Era como em Lisboa, antigamente, era o homem do ferro velho, era o vendedor da hortaliça, era o homem que vendia os morangos, era a peixeira, era a fava rica, tudo apregoava. Aquilo era uma alegria. Então a malta já conhecia aqueles pregões. Havia um da casa mesmo ao lado da minha, que era o Tone Duarte, esse ainda vinha acima do cruzamento e já se ouvia o pregão dele a vender morangos: “Ai um cabaz com morangos. É de Sintra e Colares”. Antigamente, só Sintra e Colares é que tinha morangos. Era o homem do mexilhão, à noite: “É o mexilhão, é para a criada é para o patrão”. Era tanta coisa.