Gostava de fazer queijo e dos cabritos a pular

Aqui em Monte Frio havia o queijo. Eu quando vim para cá e comecei a fazer só de cabra, mas no tempo dos meus pais e de muita gente, era cabra e ovelha. Mas eu nunca gostei de ovelhas, porque a ovelha é só tosquiada em Maio, e no Inverno, quando é no tempo de chuva, a gente anda com elas na rua para comerem e a lã molha-se. Depois quando vão para a loja, põe-se a palha para elas comerem, a gente chamava-lhe o feno, que às vezes tem semente, quando não é bem batido. Então caía aquela semente em cima da lã e chegava a nascer erva. E a lã da ovelha cheira mal, cheira a surro. Eu nunca gostei das ovelhas, no tempo dos meus pais tínhamos cabras e ovelhas, mas eu nunca gostei. Tive sempre cabras.

Para o queijo tínhamos o cardo, que dá uma florzinha azul. Um género de alcachofras. Aquilo dá três camadas. Quando elas estão floridas, a gente arranca-lhe aquele azulinho e deixa-se secar. Depois, quando for aí ao fim de três ou quatro dias, tem outra camada, e a gente vai, tira e torna a pôr a secar. Depois quando aquilo já não tem nada, não presta. No outro ano a seguir torna a rebentar. Corta-se rente à terra e no outro ano torna a rebentar. Numa tigelinha pequenina punha-se um bocadinho de cardo e de água morna e depois amachucava aquilo, bem amachucadinho. O leite tinha de se pôr à borda do lume mais ou menos em banho-maria. Depois quando fosse a coar para a panela de barro, num paninho branco, punha-se no cimo da boca da panela, e punha-se aquele coador. Então é que se coava o leite. Depois mexia-se muito bem mexido. Enrolava-se a panela com o leite lá dentro e deixava-se estar aí mais ou menos 45 minutos ou uma hora para coalhar. Depois então tínhamos uns acinchozinhos com vários furos. Se o leite fosse muito, como a coalhada era muita, tinha de se abrir o acincho, puxava-se o arame. Aquilo era para depois espremer o soro, o que não prestava. Punha-se para um tacho, fervia-se e assim se fazia o requeijão. Aquilo é bom, é bom como o milho. Agora já não faço. Há uns sete ou oito anos que vendi as cabras, vendi tudo. Aquilo dava muito trabalho. Tem de se ir ao mato todos os dias para pôr na loja. Tem de se ir com elas para a rua para irem passear. Tem de se ir à erva para lhe pôr na loja. Tem de se ter muita palha que, às vezes, no Inverno tem três ou quatro dias que não se pode ir com elas à rua. Quando se debulha o feijão fica a casca. Até isso cheguei a ter muitas sacas que me davam dessa casca. As pessoas já não tinham gado e davam-me a mim.

Eram precisos pelo menos 2 litros de leite para fazer queijo. E elas davam 7 decilitros, 7 decilitros e meio cada uma. Mas tive cá uma que tinha as tetas grandes. Nem podia ir com ela para a rua quando ela andava para parir. Paria dois todos os anos. E os cabritos, como qualquer rês tem tendência, quando nasce, a ir mamar, e então procura as mamas em cima. Ela coitadinha tinha as mamas que roçava no mato. Eu lá ia, punha a teta na minha mão e é que chegava para o cabrito mamar. Era aí 15 dias, três semanas. Depois já se habituavam, já mamavam à vontade. Mas era bonito. Quando cheguei a ter, na mesma altura, 14 cabritinhos tudo a pular. Quando iam para a rua aquilo era a alegria deles, pular. Mas dá muito trabalho. E então acabei.