“Nas cartas, não havia beijinhos”

Eu e a minha mulher somos da mesma terra, da mesma infância. Ela é da minha idade. Se eu tivesse ido para Lisboa com 4 ou 5 anos e ela ficasse cá, isso é que podia ser diferente. Mas ela esteve cá até aos 27, eu até aos 14. A gente já se conhecia bem um ao outro.

Já estava em Lisboa há bastante tempo, quando comecei a namorar com ela. Eu vinha cá todos os anos à festa e a gente falava-se. Engracei com ela, ela engraçou comigo, começámos a namorar. Os namoros começam assim dessa maneira. Estávamos a falar um com o outro e tal. Nem ela me pediu em namoro a mim, nem eu a ela. É a conversar um com o outro até acabar sério.

O namoro era por cartas. Nas cartas, não havia beijinhos, nem havia nada. Era uma carta normal: “Estás bom?”, “Estás boa?”. Nós namorámos uns dois anos.